Page 33 - IPSOFACTO N8 , Novembro 2020
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Dedicar-se ao cuidado com a saúde men- tal há muito deixou de ser supérfluo para tornar-se uma necessidade, princi- palmente no contexto em que vivemos, seja pela ansiedade das atuais gerações
ou como reflexo da pandemia. Por outro lado, cui- dar do corpo é essencial como premissa para longe- vidade e qualidade de vida, além de impactar dire- tamente na saúde mental.
A atenção à saúde física influencia a forma como o indivíduo percebe sua existência: quanto mais saú- de, mais disposição, maior produtividade, melhor au- toestima e, por conseguinte, bons relacionamentos. A verdadeira prevenção de doenças baseia-se prin- cipalmente na precaução com hábitos e rotinas que acabam por escrever a história da nossa saúde. Faz parte também checar periodicamente como está o funcionamento desse organismo complexo e interes- sante que é o corpo humano.
Diante dessas prioridades, as campanhas que colorem nosso calendário são importantes formas de conscientizar a população e motivam muitas pes- soas a olharem para si e reservar um tempo para se cuidar. Um lembrete que ganha destaque especial em alguns períodos, mas deve fazer parte da rotina durante todo o ano.
No segundo semestre temos três meses e cores que merecem especial atenção: Setembro Amarelo, Outubro Rosa e Novembro Azul.
OLHAR COM AMOR AO PRÓXIMO
O Setembro Amarelo, campanha global de pre- venção do suicídio que conscientiza sobre o valor da vida, é um chamado a exercer a empatia e olhar com amor para o próximo.
Pensamentos suicidas fazem parte da natureza humana, como mecanismo de fuga dos problemas. Mas a ação suicida não é normal, vai contra o instin- to de sobrevivência e só ocorre em estado de gran- de desespero, quando tida como a única opção de aliviar pressões (cobranças sociais, culpas, remor- sos, medo, depressão, ansiedade etc.).
Entender a mente que grita buscando ajuda é um dos objetivos da campanha. A maioria das pes- soas que tenta o suicídio não quer morrer realmen- te, mas apenas eliminar seu sofrimento. Se todos
A atenção à saúde influencia a forma como o indivíduo
percebe sua existência: quanto mais saúde, mais disposição, melhor autoestima e, por conseguinte, bons relacionamentos. A verdadeira prevenção baseia-se
na precaução com hábitos e rotinas que acabam por escrever a história da nossa saúde
estivermos atentos poderemos identificar os pedi- dos de socorro silenciosos (mudanças bruscas de comportamento, abandono de atividades, desape- go a coisas e pessoas antes importantes, isolamento social e frases cáusticas).
O Centro de Valorização da Vida (CVV), ONG brasileira que há quase 60 anos tem como foco a prevenção de suicídios e dispõe de uma ampla rede de voluntários (4.200) que fornece apoio emocional 24 horas por dia, através do telefone 188, garante que 90% dos suicídios podem ser prevenidos. Apro- ximar-se de quem sofre e ouvir sem julgar são as formas mais efetivas de prevenção.
Segundo o CVV, “a média brasileira é de 6 a 7 mor- tes por 100 mil habitantes, bem abaixo da média mun- dial – entre 13 e 14 mortes por 100 mil pessoas. Mas o que preocupa é que, enquanto a média mundial per- manece estável, esse número tem crescido no Brasil”. O problema é tão sério que recentemente foi promul- gada a Lei no 13.819/2019, como parte da Política Na- cional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio.
De acordo com um levantamento do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 11.433 mortes por suicí- dio no ano de 2016, cerca de 31 casos por dia ou um caso a cada 46 minutos. O suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Os nú- meros desse Boletim Epidemiológico surpreendem. A curva de crescimento de 2011 a 2016 é ascenden- te e a região Sudeste é a mais afetada. Embora o número de tentativas seja maior em mulheres, en- tre os homens o óbito é quase quatro vezes maior.
Razões religiosas, morais e culturais influen- ciam o tabu do suicídio. Visto como pecado e abafado, o problema tem se multiplicado mundial- mente. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma mudança de estratégia global no enfrentamento: educação e informação são necessárias para reduzir os impressionantes números deste problema.
Para a OMS, a atenção aos temas de saúde men- tal deve ser cada vez mais prioritária. Trabalhar a autoestima, cultivar os sentimentos de utilidade e de pertencimento e reforçar os laços sociais são fatores naturais de proteção, porque fortalecem o lado emocional e solidificam a crença de que as fa- ses ruins serão superadas.
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