Page 7 - Relatório Anual 2020 iCSHG
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O União BR comprova a capacidade de articulação empreendedora da sociedade brasileira e o potencial que existe para mobilizações nas quais a causa é mais importante do que as lideranças, e a comunidade é mais valiosa do que a marca.
Desafios da cultura de doação no Brasil
Nós temos muitos desafios ainda no Brasil, sem dúvida. Talvez o principal seja “normalizar” a conversa sobre doação, ou seja, dar continuidade a esse processo que foi bastante disseminado na pandemia, de se falar da doação como algo do dia a dia das pessoas, do nosso cotidiano, seja na família, na empresa, com os amigos, etc.
Além disso, nós precisamos criar estímulos
que facilitem a doação. Uma legislação única e desburocratizada de incentivos fiscais que permita ao doador escolher a organização pela sua causa, em vez de ter de apoiar projetos pré-aprovados pelo governo, de um número limitado de áreas, é um exemplo de algo que precisamos desenvolver. E que preveja doação como parte do incentivo, e não o abatimento 100% do imposto, como acontece hoje.
Acabar com o imposto sobre doações filantrópicas no Brasil é outro desafio. O Brasil é um dos poucos países no mundo que taxam doações para ONGs em vez de estimulá-las.
E há também o desafio da inclusão financeira das organizações. De forma geral, o sistema é fechado
para as instituições, que têm dificuldade de abrir contas bancárias, de ter acesso a cartões de crédito, fazer empréstimos, emitir boletos-doação (que nem sequer existem formalmente), etc. Incluir a doação como um tipo de movimentação financeira com características distintas do pagamento – e, assim, criar mecanismos que facilitem a gestão das doações – é fundamental.
Modelo de grantmaker deve ganhar força após a pandemia
Sem dúvida, o movimento de doações ocorrido na pandemia pode fortalecer o modelo de grantmaker de fundações e institutos corporativos no Brasil. Sempre foi muito forte aqui a ideia de que quem tem dinheiro
sabe gerar maior impacto por conta própria do que quem capta recursos para suas iniciativas. Aí os grandes investidores criam seus projetos em vez de fazer doações para organizações independentes, como é a cultura da filantropia individual e familiar em países desenvolvidos.
Com a pandemia, acredito que muitos investidores sociais tenham começado a perceber a importância de aumentar o seu percentual de doação, ampliando o alcance dos seus recursos e gerando impacto ainda maior a partir da parceria e da relação de confiança com organizações que estão na ponta, são sérias e fazem um trabalho baseado nas necessidades da própria comunidade.
Papel estratégico dos conselhos
A governança de uma organização começa no
seu Conselho. Muitas ainda têm um modelo mais tradicional, baseado em diretorias voluntárias, mas cada vez mais vemos organizações profissionalizando sua gestão e constituindo Conselhos de Administração compostos por pessoas dedicadas, comprometidas e que chegam para somar.
Na pandemia, as organizações com Conselho estruturado se mostraram mais resilientes e preparadas para se adaptar à nova realidade. Elas tendem a
ser menos dependentes da figura de uma liderança carismática, que geralmente atrai muitos recursos e atenção, mas também torna a instituição refém da atuação individual.
“Os Conselhos contribuíram para uma análise equilibrada e objetiva da realidade, apoiaram as instituições em seus investimentos e adaptações no período da pandemia e, claro, ajudaram a trazer recursos.”
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