Page 31 - IPSO FACTO #12 - Novembro 2022
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TUDO COMEÇA COM O PRIMEIRO PASSO
Desde a adolescência, Fabiana Souza queria ter um trabalho social. “Sempre senti esse chamado mui- to forte. Na igreja havia grupos que cuidavam de pro- jetos sociais e não sei por qual razão eu tinha receio de como ficaria diante das pessoas que estava ajudando. Talvez até hoje eu não consiga, por exemplo, ajudar alguém doente no hospital, me afeta muito”.
Ela conta que esse receio sempre a incomodou, mas ao longo dos últimos anos começou a participar de ações. “Aqui no Escritório já ajudávamos, com contribuições financeiras mensais. Com a criação do Gaia Social passamos a atuar mais fortemente para apoiar instituições e pessoas que vivenciavam situações difíceis na pandemia”, recorda. “O Gaia Social é o que faz meus olhos brilharem mais do que qualquer outra coisa”.
Com as novas diretrizes do projeto, Fabiana Sou- za começou a buscar instituições que realizassem trabalhos nos três eixos do projeto: crianças, meio ambiente e desigualdade social. “Conheci o Anjos da Cidade, uma iniciativa linda. Na primeira conver- sa com a coordenadora, já me derramei”, revela, re- cordando como ouviu as histórias de auxílio a mora- dores de rua. “Fui em uma ação do ‘Anjos’ e estava com medo de como ia me sentir, como ficaria meu emocional. Cheguei bastante perdida, meio parali- sada, sem saber por onde começar. Ao longo da noi- te fui me soltando, ajudando na entrega de marmi- tas, roupas de frio e cobertores. Eles fazem o trajeto semanalmente e por isso conhecem as pessoas pelo nome, sabem suas histórias e sobre as famílias, têm uma verdadeira conexão. Ficamos até uma hora da manhã e foi maravilhoso. No dia seguinte, o dr. Gaia (Fernando Gaia, um dos sócios fundadores da Orga- nização e idealizador do Gaia Social) me ligou para saber como foi e eu chorava de felicidade contando. Fiquei uma semana em estado de êxtase”.
Para a gerente administrativa, o mais emocionan- te foi a interação com os moradores de rua, acom- panhar sua situação e tentar ajudar. A ligação com o projeto Anjos da Cidade se fortaleceu e ela decidiu também ir conhecer a Associação Sal da Terra, de atuação com crianças, que o Escritório apóia há mui- tos anos. Durante a visita, teve uma grande surpresa.
“Quando cheguei na cozinha, a coordenadora estava me apresentando às pessoas e tinha uma
Aqui no Escritório já ajudávamos, com contribuições
financeiras mensais. Com a criação do Gaia Social passamos a atuar mais fortemente para apoiar instituições e pessoas que vivenciavam situações difíceis na pandemia
Fabiana Souza
freira com máscara e óculos, a irmã Ana Maria. Eu pedi a ela que tirasse a máscara e pude confirmar: a irmã Ana Maria cuidava do grupo de jovens da igreja na minha adolescência, em Ibirarema, uma cidade de 5 mil habitantes no interior de São Paulo. Eu mal podia acreditar que a encontrei ali, depois de 25 anos. Foi uma grande emoção estar com ela na instituição em uma ação do Dia das Crianças”.
Fabiana Souza encontrou seu caminho, sua missão, começou a participar de todas as ações e a tentar engajar mais pessoas com seu entusiasmo e vontade de ajudar. “Conversei com uma pessoa que foi recuperada pelo ‘Anjos’ e escrevi a história em um e-mail para a equipe; precisava tocar as pessoas compartilhando o que vivenciei. Virou meu propó- sito”, diz. “Quando ajudamos o outro, algo muito maior se transforma dentro da gente. Passamos a olhar de forma diferente para o ser humano, para a nossa vida. É uma honra participar ativamente do Gaia Social, um trabalho sério de contribuição pela transformação da sociedade. É lindo ver o pesso- al do GSGA participando, os sócios indo no ônibus na ação de rua e colocando a mão na massa, todos juntos. Falei para o Fernando Gaia: ‘olha só o que o projeto já transformou. Eu, que sempre tive o so- nho de trabalhar com social, nunca tinha tido co- ragem, o Gaia Social foi meu primeiro passo e hoje sou engajadora. Os sócios participam e ficam apai- xonados. Não são números; o pouco que consegui- mos transformar significa muito quando falamos
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O projeto foi, para mim, a
oportunidade de colocar em prática minha vontade de ajudar de forma mais ativa
Anna Lomba
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